segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Sábado à noite...


Sábado à noite. Paris. Vinho tinto. O fantasma de um pardal cantava a vida em cor de rosa, bem de frente à Notre Dame. Noite clara, bem de frente à Notre Dame. Turistas notívagos. Vagabundos ébrios. E corvos, grasnando de cima das gárgulas. Paris num sábado à noite. Uma brisa de música no ar. E o ronronar dos franceses ecoando dos cafés.

Qual é o sentido disso?

Essa cidade.

Esse mundo.

Essa noite.

A cidade está aqui há muito tempo. Estará aqui quando eu já não existir. E as noites de sábado continuarão a embalar clochards no decorrer da eternidade. Qual o sentido disso tudo.

Tudo é extremamente belo e triste.

Em Paris, todo mundo é Sartre. Eu também.

E as córneas petrificadas das gárgulas de Notre Dame sabem disso tão bem quanto eu. Elas são Sartre.

Sigo pelo Quartier Latin, às márgens do Sena. A água escura emana matizes de dourado. As ondas tremeluzentes balançam por baixo dos barcos. O barco está bêbado. O murmúrio do Velho Mundo está todo aqui. Nessa calçada. Na minha cabeça.

Atravesso a Pont Des Arts.

Bebo vinho nos pátios do Louvre. Em algum ponto lá dentro, quadros dormem para sempre. A Mona Lisa sorri para sempre, acima dos holofotes.

O sono começa a pesar nas minhas pestanas. É alta madrugada.

Entro na Croix Des Petits Champs. Luminosidade avermelhada que se derrama da sacada dos prédios e tinge o chão de luar. O sono é leve e gentil, quase sensual. Eu me recolho. E lá no fundo da rua, a praça deserta paira acordada, iluminada para ninguém, só para mim. Tudo é belo e triste no mundo. JE T'AIME.

2 comentários:

Bruna Assagra disse...

Que bom que aproveita Paris... enquanto aqui no terceiro mundo, continua... sem tiradinhas idiotas, tudo imundo... inclusive os sonhos... e os vinhos ruins.
E principalmente o tédio, mas não aquele tédio bom... o tédio dos ignorantes... Aproveite

bette disse...

Viva a França!!rs