Sábado à noite. Paris. Vinho tinto. O fantasma de um pardal cantava a vida em cor de rosa, bem de frente à Notre Dame. Noite clara, bem de frente à Notre Dame. Turistas notívagos. Vagabundos ébrios. E corvos, grasnando de cima das gárgulas. Paris num sábado à noite. Uma brisa de música no ar. E o ronronar dos franceses ecoando dos cafés.
Qual é o sentido disso?
Essa cidade.
Esse mundo.
Essa noite.
A cidade está aqui há muito tempo. Estará aqui quando eu já não existir. E as noites de sábado continuarão a embalar clochards no decorrer da eternidade. Qual o sentido disso tudo.
Tudo é extremamente belo e triste.
Em Paris, todo mundo é Sartre. Eu também.
E as córneas petrificadas das gárgulas de Notre Dame sabem disso tão bem quanto eu. Elas são Sartre.
Sigo pelo Quartier Latin, às márgens do Sena. A água escura emana matizes de dourado. As ondas tremeluzentes balançam por baixo dos barcos. O barco está bêbado. O murmúrio do Velho Mundo está todo aqui. Nessa calçada. Na minha cabeça.
Atravesso a Pont Des Arts.
Bebo vinho nos pátios do Louvre. Em algum ponto lá dentro, quadros dormem para sempre. A Mona Lisa sorri para sempre, acima dos holofotes.
O sono começa a pesar nas minhas pestanas. É alta madrugada.
Entro na Croix Des Petits Champs. Luminosidade avermelhada que se derrama da sacada dos prédios e tinge o chão de luar. O sono é leve e gentil, quase sensual. Eu me recolho. E lá no fundo da rua, a praça deserta paira acordada, iluminada para ninguém, só para mim. Tudo é belo e triste no mundo. JE T'AIME.
2 comentários:
Que bom que aproveita Paris... enquanto aqui no terceiro mundo, continua... sem tiradinhas idiotas, tudo imundo... inclusive os sonhos... e os vinhos ruins.
E principalmente o tédio, mas não aquele tédio bom... o tédio dos ignorantes... Aproveite
Viva a França!!rs
Postar um comentário